Quando uma
pessoa que não lhe conhece virar pra você e falar.
– Minha querida, ou meu
bem, meu amor.
Pare e reflita; que
intimidade ele(a) tem para lhe chamar de querida?
Sinta a frase; “Minha
querida”. Algo que a torna especial, amável, carinhosa. “Meu amor”, mais íntimo
ainda.
Esse tipo de frase virou
um jargão oportunista e imediatista, usado por políticos para quebrar a sua
defesa em relação á sua figura estranha. E como a auto estima dos brasileiros é
baixa pela própria decrepitude moral de um povo, que cresceu sob os auspícios
da camaradagem exploradora do que é público com a cumplicidade viciosa da
vizinhança.
Tempos idos, era e ainda
é comum os políticos abraçarem, baterem nas costas das pessoas, outro ardil
para quebrar a resistência. Quem lhe abraça, quem lhe chama de querida é alguém
com quem se tem intimidade, de quem se tem afeto.
Com
o político não temos nem afeto nem intimidade, mas no momento em que ele lhe
diz; “meu querido”, cria essa relação, para você se sentindo amado amoleça o
seu coração e se abra pra ele.
Aí
está, uma coisa que o Lula usou e abusou na sua campanha Lulinha paz e amor.
E foi repetindo,
repetindo que hoje ao comprar uma fruta na rua o vendedor lhe diz: “Está muito
boa querida”.
Como é que é?
Está errado, por mais
que pareça chato é correto perguntar, se ao menos ele sabe o que significa a
palavra querida?
Não é porque algo foi
usado oportunisticamente por delinquentes morais durante anos, que vira regra,
o vocabulário é só um. Não devemos usar palavras carinhosas com estranhos, faz
parte da educação básica que todo cidadão deve ter, usar as palavras senhor e
senhora, por favor, obrigada, bom dia etc...
Ainda hoje podemos ver, por
exemplo, nossa presidente, quando entrevistada e alguém faz uma pergunta que
ela acha ser inconveniente, ela diz; — Minha querida! Olhos mandando farpas
tenebrosas para quem fez a pergunta, o minha querida é só pra atenuar a raiva
que sentiu com a pergunta inconveniente.
Muitos dos nossos bons
costumes foram alterados propositadamente pelos governantes maus intencionados,
corrompedores da coletividade.
Falar errado para
exaltar o erro como parte da cultura é alta sacanagem, estimular a ignorância
para justificar a deficiência do ensino que não se preocupou em melhorar na
qualidade do aprendizado, é querer estimular a mediocridade e usar como arma de
discriminação em relação aos instruídos e a quem não tem instrução.
Lentamente foi se
firmando o jogo da separação, de estabelecer diferenças onde o que parece mais
privilegiado o é em detrimento do “pobre coitado”: seja miserável, trabalhador,
de cor, homo etc.. Essa diferença é exaltada como se fosse uma
coisa sedimentada. Não, ela foi se estabelecendo socialmente com a repetição à
exaustão, dos interessados nessa discórdia, seja presidente, governador,
deputados, senadores, todos aqueles que se favorecem com a cizânia. Eles não
querem saber do desequilíbrio que isso veio causando com essa mentira repetida.
Acreditem ‘queridos’,
escrevo essa palavra seguindo a banalização das palavras afetuosas com
estranhos no sentido de amaciá-los.
E uma das coisas que vi se instalar como
hábito no nosso país foi o mau exemplo de um ex presidente se espalhando como
praga. A expressão “meu querido” no contato direto com a população nos inúmeros
comícios em que esteve por esse país, consequentemente
foi um modelo assimilado por aqueles sem condições de acesso a educação básica, aquela pessoa igual a eles virou presidente. Esperança.
E hoje é comum se ouvir:
custa x meu amor, aqui na Bahia; assim como se ouve naturalmente em lugares
públicos, expressões chulas, xingamentos fazendo parte de conversas comuns, nas
filas de bancos, supermercados; — Puta
que pariu, porra, pô caralho, vá tomar no cu. Vá a merda ficou fraquinho e
quase não é mais usado. E pensar que meus pais não nos permitia nem;” vá a
merda”.
A distorção está tanta
que ai de quem se atreva questionar; numa transação de venda de morangos na rua,
como no diálogo abaixo:
— Meu amor não dá pra
vender três por R$ 10,00
— Como é que o senhor me
chama de meu amor, o senhor nem me conhece?
— É uma forma de
carinho.
— E daí, como é que usa
uma expressão de carinho com uma desconhecida?
- Não gostou é?
— Não. Não gostei e senhor
e senhora já seria de bom tamanho.
Não vou continuar com o
diálogo.
A pessoa fala uma
palavra errada no contexto cotidiano e ainda se ofende se é questionado, já
questionei várias vezes e depois tive de explicar (gentilmente) para essas
pessoas que certas palavras só devem ser ditas com quem partilhamos de
intimidade, aliás usando uma linguagem de fácil compreensão.
Quando olhamos no
dicionário a palavra querido(a).
Querido = A que ou a
quem se quer muito; amado(a). S.m. Expressão carinhosa e íntima aplicada a uma
pessoa do sexo oposto a quem se estima ou ama; o mesmo que meu bem.
Portanto não podemos
chamar de querido um desconhecido.
E quando viajamos para
outros países, onde a educação foi guiada para a socialização e respeito, vemos
o quanto estamos atrasados em civilidade. Durante décadas, nos deixamos
envolver em maus costumes como modelo para maus hábitos. Que o diga a música
brasileira.
O que os políticos
usaram com más intenções é tática suja de aproximação que não deve ser repetida
e sim repelida. Não preciso de um político para ser meu amigo, é preciso que
esse político cumpra a função a que ele se propôs só isso.
É falta de respeito um
estranho me abraçar sem a minha autorização. Usar expressões carinhosas que só
usamos com aqueles a quem amamos com estranhos, é vulgarizar a palavra.
Junho de 2014