Do tempo em que a minha mente ainda oscilava com o socialismo utópico.
O que me salvou foi saber o preço das coisas, ter três filhos para criar e assumir a executiva do lar. Simples assim. A coitadice está presente nas poesias.
Corumbá
Minha
terra não tem palmeiras
E os
sabiás, foram levados
Em
gaiolas. Para bem longe
Restam
andorinhas
E urubus
aos montes
Que planam
sobre a cidade
Agourando
a todos
O sol que lá brilha
Forte e
causticante
Como que,
mostrando
O seu poder
abrasador
De secar a
terra
E o coração
da gente
Que lá.
Nem mais quer morar
E quem fica
Não pela
vontade
Nem pelo
amor à terra
Mas, pela
ausência do querer
Ir embora
Dá trabalho
viajar
Arriscar
Lá tem uma casa
Pra morar
E peixe no
rio
Minha terra
não tem palmeiras
Mas tem pé
de umbu
Que é doce
e carnudo
Como para
mostrar
Que a seca
Não é tão má assim
Quando
chove
O mato cresce.
Tudo
floresce
Pequis, tamarindos
Puçás e
pitombas
Infestam na
beira da estrada
E eu
Me esqueço
das palmeiras.
Momento
Sombrio
Que
fazer?
Quando
você
Não
se tornou alguém
Que
fazer? Para não ver
No
rosto do seu pai
A
decepção.
Que
fazer, quando sua mãe
Continua
a repetir
Vá
pedir emprego ao deputado
Que
fazer?
Quando
seu irmão de boca cheia lhe diz
Fodido
Que
fazer quando seus amigos
Não
mais o compreendem
E
parecem estar. Sempre ocupados
Que
fazer?
Quando
aquela menina
Faz
de conta que não lhe viu
Que
fazer?
Quando
seus vizinhos
Parecem
que estão indo muito bem
Mas,
você não está lá grande coisa
E
até parece
Que
você os agride, com o seu desconforto
Você parece incomodá-los
Com
a sua penúria
Eles
não entendem
E
depois
Seus
problemas, são tão pequenos
Eles
não são nada
Comparados
aos das outras pessoas
Você
tem dois braços, duas pernas
É
sadio.
É
assim mesmo, dizem:
Quem
manda querer levar a vida na flauta?
Mas,
você não sabe tocar flauta.
Você
escreve poesias.
Dá
no mesmo.
Você
escreve romances.
Vive
de fantasia, pois é.
Agora
se alimente com ela
Que
fazer?
São tantas coisas a fazer,
que não sei por onde começar.
25 anos depois
Os
olhos de meu pai sempre foram de compreensão e apoio incondicional.
Passei anos achegada com a ópera.
Puro drama.
A ‘la’ Roger Waters
Amigos?
Sem que um soubesse da existência do outro
Sem que nunca tivessem tocado, a mesma nota de real
Sem que tivessem passado pela mesma rua,
uma única vez.
Sem que ao menos pensassem sequer, na mesma
garota,
da playboy.
Sem que uma única vez, tivessem almoçado no mesmo
restaurante
a quilo.
Nem ao menos moravam em bairros próximos
Uma
única vez, estiveram na mesma estação
Pegaram
o mesmo ônibus
Um
pediu licença ao outro
Por
um momento
Seus
olhos se encontraram
Fixando
firmes na profundeza do outro
E
nesse momento
Que
durou uma eternidade
Reconheceram-se
amigos,
de
não se sabe onde.
De
já vu
Aparentemente
eles não eram amigos.
Algum dia de maio de 1994
Da série:
Por que guardei, tanto
tempo os meus escritos?
Escondi
os meus sonhos
Eles
não enchem barriga
Apesar
de me ter levado para as nuvens
Quando
eu deveria ter os pés no chão
Apesar
de me mostrarem um vislumbre
Do
que seria a luz
Tive
que deixá-los
De
lado
Na
casa
Guardados
Dentro
do armário
Escondidos
para que ninguém
Possa
encontrá-los e jogá-los fora
O
lugar é secreto
E
só eu sei
Mas
ainda assim
Terei
de esquecê-los por uns tempos
É
a vida
O
dia a dia
Que
me tira de mim
E
me perco no almoço.
Junho de 1996
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